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Entrevistador:

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Para falar sobre um tema tão importante como os movimentos sociais, nós vamos entrevistar a Professora Maria da Glória Gohn. Ela é cientista política, socióloga e especialista no tema. E para começar, professora, quais são as diferenças entre um movimento social e uma manifestação? 

 

Maria da Glória Gohn:

 

Bem, desde revoltas, tudo chamava movimento social, movimento social. A partir de 2013 o que caracterizou bastante o termo manifestação e se estabeleceu algumas diferenças, porque um movimento social é mais estruturado, ele tem usualmente um antagonista, o movimento social tem um alvo, tem pautas, demandas, reivindicações, tem um certo histórico, tem lideranças. E o que surgiu em 2013 foram manifestações que as pessoas aderiram, saíam às ruas a partir de determinadas convocações. As manifestações podem, assim como aparecem, sumir. Então as manifestações não têm uma permanência como os movimentos, elas são episódicas. E os movimentos eles estão estruturados em torno de determinados eixos. 

 

Entrevistador:

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Em um dos seus artigos os movimentos sociais são definidos como “ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais de diferentes classes. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil.” Professora, qual a força para promoção de mudança social que cada um desses fenômenos exerce atualmente no país?

 

Maria da Glória Gohn:

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Olha, historicamente a gente pode observar, não só no Brasil, mas em vários países do mundo, que a sociedade só mudou a partir da pressão e de movimentos sociais. A pressão para a mudança do regime militar foi graças à mobilização da sociedade civil e movimentos sociais que pressionaram. Depois de 88 o perfil dos movimentos mudaram um pouco, porque no Brasil não se tratava mais de só ficar contra o Estado.

 

Entrevistador:

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Professora, qual é o papel do jovem nesse novo cenário? 2013 foi marcado também pelas organizações via redes sociais…

 

Maria da Glória Gohn:

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Acho que esses jovens poderão vir a fazer diferença, e a gente já observa isso na política, quando olha na última eleição o surgimento de grupos novos de jovens que não tinham uma inserção na política anteriormente, e de diferentes espectros. Isso tudo é coisa nova e é coisa dos jovens. Por isso eu não tenho esse pessimismo de que estamos nos fins dos tempos. Pelos jovens é que está se redescobrindo os movimentos, as manifestações e os coletivos. Porque teve um período recente na história brasileira que muitas achavam que os movimentos não eram tão mais necessários. Sem dúvida que foram conquistas importantes, e que deve-se lutar para preservar essas conquistas, porque estão todas sendo desmanteladas, fechadas, esvaziadas, mas não basta apenas essa participação. Acho que um dos grandes equívocos que justamente ocorreu até 2013 foi justamente achar que a participação institucionalizada, por si só, bastava, que resolvia todas as questões, e que a sociedade estava plenamente satisfeita.  De repente você viu que a sociedade não estava, porque saiu e bateu panela, e os jovens também não estavam satisfeitos. É muito interessante ter a trajetória dos jovens, como que foi todo o processo da questão do Estatuto da Juventude, em 2005, 2007, depois em 2013… foi justamente logo depois das manifestações que o Governo aprovou, assinou, correu… bem, onde que estavam esses jovens, a gente não estava cuidando de tudo? Então imediatamente tomaram algumas providências com relação aos jovens, mas um pouco tarde.         

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