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Caio Callegari

Educação

Texto: Rudiney Freitas | Fotos: Sofia Abreu | Edição de vídeos: Wemerson Ribeiro

Reportagem: Rudiney Freitas e Sofia Abreu

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Em um escritório no bairro de Higienópolis, onde costuma trabalhar, Caio Callegari recebe a equipe de reportagem em uma noite agradável de setembro. Com um sorriso no rosto e uma prestatividade característica, o jovem apresenta o espaço onde atua profissionalmente e comenta sobre a oportunidade de conversar sobre um dos assuntos de que mais gosta: educação.

Caio de Oliveira Callegari nasceu em 20 de julho de 1992 em São Paulo e é formado em Economia pela FEA-USP. Filho de educadores, entendeu desde cedo a importância dos estudos. Para atingir o desejo que teve aos dez anos de se tornar diplomata — objetivo traçado após o sonho de ser jogador de futebol não prosperar —, dedicava-se com afinco às matérias do campo das ciências humanas, como História e Geografia, apesar de também ressaltar com orgulho a facilidade que tinha com Matemática. Para Caio, a diplomacia seria sua oportunidade de viajar pelo mundo e melhorar a relação entre as pessoas.

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Caio Callegari é formado em Economia pela FEA-USP

O jovem cresceu, conciliou as áreas do conhecimento que gostava, mas decidiu adotar outra profissão e tornou-se economista. Atualmente com 27 anos, Caio é uma das lideranças do Todos Pela Educação, um movimento fundado em 2006 e nacionalmente conhecido por defender avanços na educação básica e outras pautas relacionadas ao tema, como a Base Nacional Comum Curricular.

Caio conta que se deparou pela primeira vez com a desigualdade social durante um jantar com a família, ainda quando criança. O pai, César Callegari, 66, havia chegado em casa após um dia de trabalho na Secretaria Municipal de Educação de Taboão da Serra e começou a reclamar sobre a falta de verbas que impedia o município de adquirir merenda para as escolas. A situação das crianças o comoveu profundamente.

A defesa da educação

Ao entrar na faculdade de Economia, aos 18 anos, Caio já tinha conhecimentos prévios do que era Plano Nacional de Educação e Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação). O meio universitário, aliado às pautas que havia pesquisado durante anos, foi fundamental para o desenvolvimento da ideia em atuar profissionalmente com educação, um tema presente desde muito cedo em sua vida. Ainda durante o período na USP, o estudante se tornou uma referência no assunto. “Passei a ser um pouco mais identificado entre meus pares como o cara que entende de educação. Ali eu percebi que sei falar disso”, comenta Caio com orgulho.

Entre 2012 e 2013, o jovem realizou uma pesquisa científica com o tema “O Componente Educacional do Custo Brasil”, por meio de uma bolsa CAPES. Caio então entendeu que era o momento de definir qual caminho seguiria no mercado de trabalho. “O Todos Pela Educação foi uma instituição que eu pesquisei quando estava fazendo minha iniciação científica. Mandei mensagem para um colega de faculdade que trabalhava lá e falei ‘olha, você sabe se tem alguma oportunidade de trabalhar como economista aí?’ Ele falou ‘tem, na produção de indicadores’, que era o que eu já tinha estudado”. 

Em 2015, ingressou no Todos Pela Educação como estagiário. Os pais, entretanto, receberam a novidade de maneiras diferentes. “Meu pai teve uma preocupação de ordem financeira, como isso iria me remunerar; minha mãe ficou animadíssima. Naquele momento eu não tive dúvida, queria trabalhar com uma missão, até por conta de possibilidades mais privilegiadas que eu tinha para tomar essa decisão”.

"Naquele momento [entrada no Todos Pela Educação] eu não tive dúvida,

queria trabalhar com uma missão, até por conta de possibilidades

mais privilegiadas que eu tinha para tomar essa decisão"

— Caio Callegari (sobre a Escola Sem Partido)

Realidade brasileira

A longa preocupação de Caio com a educação brasileira tem motivos relevantes. Em 2015, o País ficou em 63° na classificação do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês). Além disso, aproximadamente quatro em cada dez jovens de 19 anos não concluíram o ensino médio, de acordo com monitoramento do Todos Pela Educação, com base em números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

De acordo com Maria Machado Campos, pesquisadora na Fundação Carlos Chagas, a herança de desigualdade social no País contribui diretamente para os resultados apresentados em pesquisas educacionais. Além disso, a pedagoga enxerga problemas na forma como o ensino é estruturado no Brasil. “A organização sempre foi de cima para baixo: a esfera federal com as universidades, os estados com o ensino médio, e os municípios, a maioria pobre e sem recursos técnicos, com o encargo de educar as crianças que iniciam sua escolaridade”.

Campos ainda acrescenta que, entre as diversas tarefas para melhoria dos índices educacionais, a continuidade dos Planos Nacionais de Educação e o reconhecimento de professores é fundamental. Segundo ela, também “é preciso valorizar os progressos que já alcançamos de acordo com os próprios resultados do Pisa; alguns resultados de matemática e linguagem melhoraram, apesar de tudo”.

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Dados: IBGE/Pnad Contínua 2018 (Arte: Wemerson Ribeiro)

Caio defende que haja uma integração entre estados e municípios para a promoção da qualidade no ensino dos jovens. “Precisa ficar claro que a criança não é de determinado município ou determinada rede de ensino. É de um município, de um estado, e do Brasil”. E questiona: “como garantir para um determinado adolescente a oportunidade de ser jovem-aprendiz ao invés de ele ter que, necessariamente, sair para o mercado de trabalho informal e acabar deixando a escola? Esse tipo de construção de políticas públicas paralelas à educação também tem que ser pensada tanto na perspectiva do estado quanto do município”.

 

Cumprimento da missão

Em diversos momentos durante a conversa, Caio demonstra satisfação em poder atuar em algo que lhe desperta tanta paixão. Diante da situação brasileira delicada nos resultados educacionais, o jovem de 27 anos carrega na fala a certeza de dias melhores para o País. Entre algumas razões para acreditar, estão as conquistas do Todos Pela Educação. Desde que foi fundado, há treze anos, o movimento do qual faz parte se solidificou e atualmente mantém bom contato com o Congresso. 

Para Caio, muito disso se deve à formulação de propostas concretas e posicionamento apartidário da instituição. “Isso aumentou justamente o alcance, porque [o Todos Pela Educação] passou a ser visto pelas propostas, de certa forma, neutras politicamente, baseadas em evidências”, e acrescenta: “O Todos Pela Educação tem conversado com todos os deputados e senadores ligados à causa da educação. De todo o espectro político, inclusive deputados do PSL e do PSOL”.

Caio celebra o apartidarismo da instituição em que atua, mas nem por isso deixa de criticar propostas que, em sua opinião, trazem pouco resultado efetivo. É o caso do Escola Sem Partido — proposta que diz impedir a “doutrinação ideológica” nas salas de aula — que, na análise de Caio, “nada dialoga com o que realmente funciona para melhorar a educação. É uma forma de atacar os professores, de reduzir a autonomia docente e de desvalorizar o magistério”. De acordo com o jovem, a medida seria uma punição aos pedagogos. “A gente deveria estar fazendo um movimento no Brasil de valorização do professor, da qualificação de sua formação, para que ele realmente tenha ferramental para trabalhar”.

"É uma forma de atacar os professores, de reduzir a autonomia

docente e de desvalorizar o magistério"

— Caio Callegari (sobre o Escola Sem Partido)

 

Futuro pragmático

Caio demonstra crença em dias melhores para o País, mas também mede as palavras para não soar otimista em demasia. O economista apaixonado por educação acredita que os jovens são muito importantes nas discussões que envolvem o futuro do Brasil, mas reconhece as dificuldades atuais para isso. “Os jovens são pouco ouvidos na elaboração de políticas públicas”, destaca.

Entre os gestos que faz com as mãos constantemente para enfatizar as palavras, Caio vislumbra um futuro que, acredita, é baseado em missões, não na ocupação de cargos. “Meu sonho para os próximos anos é continuar me construindo como alguém capaz de propor mudanças na educação brasileira para enfrentar desigualdades. Não me vejo me candidatando, mas apoiando as várias legislaturas em um esforço muito mais republicano”. O economista de 27 anos quer ser conhecido como um jovem idealista e articulador de políticas educacionais. 

César Callegari salienta a capacidade que o filho tem de compreender pontos de vista distintos sem que isso comprometa os ideais e convicções de Caio. Para Callegari, o trabalho do rebento é motivo de satisfação, principalmente pelo alto grau de informação que o jovem tem e a capacidade propositiva. E complementa, com um tom mais afetuoso: “Ele já tem feito uma contribuição importante para o País. Tenho orgulho de ser o pai dele”.

Para Caio, o lugar onde atualmente está o permite causar um impacto social que desejava realizar ainda quando criança, e finaliza: “Se a população tiver uma noção de justiça social, a gente tem um caminho muito grande para avançar. A gente tem muito potencial. Temos que acreditar que a educação é que faz a diferença, é justiça social que tem que ser o nosso mote enfrentando desigualdades”.

Três perguntas

O que é educação?

Educação é o pressuposto da nossa vida em civilização. É o esforço de cada geração para que as próximas gerações se sintam preparadas para um determinado tipo de vida, bebendo da fonte do que já foi construído.

Qual o papel da iniciativa privada na educação?

A gente tem que colocar todo o foco na educação pública, principalmente pensando na educação básica. Recursos que venham adicionais do setor privado, desde que eles não influenciem a linha pedagógica e as escolhas de pesquisa das universidades, acho positivo que se tenha. Mas é um trabalho muito difícil.

O que faria como Ministro da Educação?

[Minha primeira medida como ministro da Educação] seria a construção de um esforço junto com os estados, municípios e com a sociedade civil, uma proposta de sistema nacional de educação.

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